No dia 3 de agosto de 2021 iniciou-se o curso de verão Fora de Campo, que integra a programação do Festival Internacional de Filme Documentário de Melgaço, Portugal. Numa parceria com a AO NORTE, juntamente com o prof. José Ribeiro, a profa. Manoela dos Anjos Afonso Rodrigues representou o NuPAA, o PPGACV e a ANPAP, integrando a equipe de organização desta edição do curso que teve como tema as NARRATIVAS NA PRIMEIRA PESSOA.
O catálogo contendo a programação e textos dos organizadores pode ser acessado neste link: http://mdocfestival.pt/arquivo/catalogos/Mdoc021.pdf?v=1.1
Abaixo, o texto de apresentação do curso de verão:
Narrativas na primeira pessoa a construção dos espaços autobiográficos em situações de aprendência
Manoela dos Anjos Afonso Rodrigues – NuPAA/UFG/ANPAP
José da Silva Ribeiro – AO NORTE
Somos professores e investigadores a trabalhar com as narrativas de si por meio do audiovisual e seus processos de mediação, bem como através das práticas artísticas contemporâneas e seus processos de criação. A nossa parceria nasceu no Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual da FAV/UFG, no Brasil, em 2019, quando percebemos que estávamos a trabalhar conteúdos e processos próximos com os nossos estudantes, com foco nas narrativas na primeira pessoa, porém de formas distintas. José Ribeiro na disciplina “Trabalho de campo e narrativas digitais” partiu de perguntas liminares de reconhecimentos de si na presente situação de “aprendência” – quem sou eu? O que faço aqui? O conhece-te a ti mesmo colocado no pátio do Templo de Apolo em Delfos de acordo com o escritor Pausânias constituía em meu entender importante ponto de partida para todos nós aprendizes. Importante também o lugar para onde queremos ir. Destas interrogações decorria a proposta de construção de uma curta narrativa visual, audiovisual ou performática de apresentação dos estudantes e na continuidade desta primeira produção a elaboração de um diário de bordo ou de um portfólio de cada um dos participantes que acompanhasse o desenvolvimento da disciplina. Procurávamos assim construir aprendências significativas de sujeitos e subjetividades que se constroem, se encontram, se reconhecem a si próprias e às outras, se apresentam, se socializam para além do contexto escolar da sala de aula, se projetam como “ação transformadora”, numa travessia intercultural, interdisciplinar, transmediática e de afetos. Na disciplina Atos Autobiográficos e Práticas Decoloniais nas Artes Visuais, Manoela abordou as narrativas na primeira pessoa a partir das artes visuais, buscando experimentar o campo da autobiografia sob as lentes dos estudos decoloniais. Baseando-se então na autobiogeografia, Manoela propôs aos estudantes um exercício crítico e poético de construção do espaço autobiográfico. Para tanto, ofereceu uma pequena caixa de madeira a cada estudante que, por sua vez, decidiu o que iria constituir tal espaço, o que não seria considerado, trazendo assim à consciência os processos de construção das narrativas de si. Os conceitos “espaço” e “lugar” articulados pela geografia humanista e pela geografia feminista, bem como os debates sobre a política do lugar e da identidade para o campo das escritas de vida pós-coloniais foram importantes ativadores da proposta. Cada caixa gerou uma autobiogeografia particular, ou seja, uma narrativa autobiográfica criticamente situadas que evidencia as experiências de deslocamento – geográfico e identitário – das pessoas que estão a escolher o que fica e o que sai da caixa. Na proposta para o Curso de Verão, os participantes receberão uma breve introdução sobre o conceito autobiogeografia, sobre a pesquisa autobiográfica baseada na prática artística, e experimentarão construir seus espaços autobiográficos em pequenos recipientes fornecidos no início do curso. O objetivo é observarmos como criamos e editamos as narrativas que vão construindo nossa ideia de self.